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Empatia no Trânsito

O trânsito de um local é uma representação da sociedade da qual faz parte. Seria incoerente descolar os padrões comportamentais observados no trânsito de um todo maior – como se na via pública emergisse, num passe de mágica, uma realidade paralela estranha ao que se vê em outras esferas de determinada sociedade. Isso porque a via pública é, por definição, um espaço de convivência que proporciona interações entre pessoas, interações que se dão dentro de um contexto histórico-espacial bem definido. É bem verdade que, no trânsito, essas interações são bastante fugazes, mas também é inegável que são capazes de deixar marcas, positivas ou negativas, passageiras ou indeléveis, em todos que nelas se envolvem.

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Nosso trânsito é desigual e violento. Desigual porque os modais rodoviários nadam de braçada em ruas e estradas projetadas para que motores potentes coloquem a desfilar suas centenas de cavalos , enquanto os pedestres se acotovelam em calçadas estreitas e os ciclistas tentam fazer valer seu direito de transitar com um mínimo de dignidade no contexto da via, visto que as ciclovias ainda são obras raras.

Já os motociclistas, estes são, muitas vezes, estigmatizados, como se fossem pequenos corpos estranhos tentando encontrar um espaço ao qual não têm tanto direito quanto as poderosas máquinas de lata de quatro rodas . Além de desigual, nosso trânsito é violento: 40 mil pessoas morrem por ano no Brasil. No Rio Grande do Sul, são em torno de 1700. Imagine se pegarmos esses números e acrescentarmos os feridos e os sequelados, além dos familiares e amigos das pessoas diretamente envolvidas nos acidentes. Na condição de partícipes do trânsito, todos nós temos direitos e responsabilidades claras, dentro de uma lógica em que o anseio individual não pode se sobrepor à segurança do coletivo.

E é isso que queremos mostrar: no trânsito, se você se colocar no lugar do outro, se você sentir junto com outro, você tende a sair do estado anestésico e autocentrado de que o meu direito precisa ser contemplado a qualquer custo. E daí advém o senso de comunidade que tanto tem feito falta em nossas vias. A palavra-chave para esse raciocínio que estamos trazendo talvez seja batida, mas infelizmente pouco exercida: empatia. Não estamos falando de gentileza, nem de educação, nem de bons modos.

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